A vida existe em todos os ambientes concebíveis na Terra, desde os picos de montanhas imponentes até os locais remotos de ilhas isoladas, desde superfícies iluminadas até as profundezas escuras dos oceanos. No entanto, este intrincado mosaico de existência não está distribuído uniformemente.
Por séculos, cientistas se maravilharam com a extraordinária variedade de espécies presentes nas regiões tropicais. A estonteante biodiversidade da floresta Amazônica, a vida efervescente nos ecossistemas únicos de Madagascar, as florestas nebulosas ricas em espécies da Costa Rica – os trópicos exibem a opulência da natureza.
O que torna os trópicos tão incrivelmente diversos?
Desde o início dos estudos sobre biodiversidade, os cientistas acreditavam que o fator predominante era o clima – os padrões de longo prazo de temperatura, precipitação e outras condições atmosféricas. Pensadores como Alexander von Humboldt estabeleceram essas bases no início do século XIX com observações aguçadas, destacando como regiões ricas em vida frequentemente compartilham certas características climáticas. Avançando para o presente, os cientistas constantemente correlacionam o clima com a biodiversidade. Em suma, regiões mais quentes, úmidas e ricas em recursos são verdadeiros berços da vida.
Algumas condições climáticas se estendem por vastas paisagens, enquanto outras parecem fragmentadas, assemelhando-se a ilhas isoladas em meio a climas variados. Isso levanta uma questão intrigante: A biodiversidade de uma área se deve apenas ao seu clima? Ou o tamanho e o relativo isolamento desses bolsões climáticos influenciam a riqueza e a abundância de espécies que prosperam neles?
Fazemos parte de uma equipe internacional e interdisciplinar interessada no enigma de como a geografia do clima e os padrões globais de diversidade de espécies se encaixam. A geografia do clima é uma parte maior da imagem da biodiversidade do que se supunha anteriormente, de acordo com nossas descobertas recentemente publicadas na revista Nature.
Desvendando a geografia do clima
Historicamente, para estudar os padrões globais de biodiversidade, os pesquisadores dividiram o mundo em retângulos de área igual e contaram as espécies em cada retângulo.
Nosso estudo se desviou dos métodos convencionais. Em vez de nos concentrarmos apenas em locais geográficos específicos, direcionamos nossa atenção para os perfis climáticos únicos das regiões. Essencialmente, não estávamos apenas olhando para retângulos de tamanho idêntico na Terra, mas para todos os lugares que compartilhavam um conjunto particular de condições climáticas. Depois, classificamos globalmente essas condições e contabilizamos meticulosamente as espécies – aves, mamíferos, anfíbios e répteis – que vivem dentro dos limites de cada clima.
Central para nossa investigação foi uma exploração da geografia desses climas, examinando tanto o tamanho quanto o isolamento. Alguns climas são generalizados e comuns, espalhando-se por vastas áreas. Outros são mais fragmentados, emergindo como bolsões isolados em meio a diferentes zonas climáticas: lembrando ilhas em um vasto oceano de outros climas diversos. Considere os climas tropicais: eles cobrem vastas extensões cumulativamente, apesar de serem fragmentados em pedaços menores e desconectados, até mesmo em diferentes continentes.
Nossas descobertas foram esclarecedoras. O clima, claro, foi um fator importante em quantas espécies prosperam em um local. Mas ficamos intrigados ao descobrir que cerca de um terço da variação que encontramos na diversidade de espécies em todo o mundo pode ser atribuída apenas ao tamanho e grau de isolamento de todas as instâncias de um clima particular.
A biodiversidade responde não apenas ao tipo de clima, mas à sua distribuição espacial. Além dos efeitos conhecidos de calor e umidade, descobrimos que climas maiores e mais isolados favorecem uma maior diversidade de espécies. Além disso, esses climas expansivos e fragmentados não apenas abrigavam um maior número de espécies, mas também nutriam uma combinação mais única de espécies.
Ao adotar, mas ao mesmo tempo superar metodologias tradicionais, nossa abordagem trouxe à luz novas perspectivas sobre as características geográficas dos climas. Descobrimos que quanto maior é uma zona climática, mais ela tende a ser fragmentada e espalhada pela paisagem.
Isolamento impulsiona diversidade
Tradicionalmente, os cientistas consideravam os climas tropicais como expansões coesas, servindo como barreiras entre os distintos climas extra-tropicais dos polos de nosso planeta. Nossa análise confirmou que os climas extra-tropicais mais frios estão relativamente bem conectados em grande parte do planeta.
No entanto, nossas descobertas mostram uma narrativa diferente para os trópicos: climas tropicais aparecem mais como ilhas fragmentadas em um mar de climas diversos, e não como reinos expansivos e interconectados. Nossa descoberta destaca que os climas tropicais, embora abundantes, estão dispersos e desarticulados na superfície da Terra.
Fazendo um paralelo, considere como regiões montanhosas abrigam vales isolados onde as pessoas falam dialetos distintos moldados por seu isolamento. A natureza reflete isso: espécies em nichos climáticos isolados evoluem de maneira distinta, criando um mosaico diverso e único de vida.
O espectro das mudanças climáticas, no entanto, lança uma sombra longa sobre essas percepções. Um mundo em rápido aquecimento pode testemunhar climas outrora vastos se fragmentando ainda mais. Essas mudanças podem desafiar as espécies, obrigando-as a atravessar paisagens desafiadoras em busca de habitats adequados. Se esses climas outrora expansivos recuarem, isso poderá perturbar todo o equilíbrio das interações entre espécies.
Entender a interação entre biodiversidade e clima não é apenas uma busca intelectual. Ela fornece direção para ajudar as pessoas a protegerem e apreciarem a diversificada sinfonia de vida em nosso mundo em evolução.